AVC isquêmico agudo

O AVC isquêmico é uma das patologias mais frequentes em nosso meio e disputa a liderança com o infarto agudo do miocárdio entre as doenças que mais causam óbitos no nosso meio.

O AVC deve ser entendido como uma obstrução aguda do fluxo sanguíneo para o cérebro e na maioria das vezes o que acarreta esta obstrução é um êmbolo (coágulo sanguíneo) que se forma em outro local, mas é levado pelo sangue até as artérias do cérebro. O sofrimento cerebral é imediato e se manifesta com um sintoma neurológico de instalação aguda, mais frequentemente uma paralisia de um lado do corpo, dificuldade para falar ou articular as palavras corretamente, perda da sensibilidade de um lado do corpo, boca torta ou outros sintomas menos frequentes.

Problemas no coração ou nas artérias carótidas podem formar os êmbolos que obstruem os vasos do cérebro.

Certamente você já ouviu falar ou conhece alguém que teve um AVC e sabe do sofrimento que esta patologia causa para o paciente e seus familiares.

Os fatores de risco para o AVC são a hipertensão arterial, sedentarismo, dislipidemia, obesidade, tabagismo e diabetes, entre outros. Devem ser tratados preventivamente pois prevenir é melhor do que remediar!

Existe um espectro de apresentações clínicas do AVC e sua gravidade, de maneira simplificada, depende do grau de obstrução (artérias maiores ou menores obstruídas) e de uma tolerância individual e imprevisível à esta obstrução pela chamada circulação colateral. Existe uma janela terapêutica, um tempo no qual a chance de se obter um bom resultado é maior. Este tempo, inicialmente de poucas horas, foi sendo aumentado, mas há limites e quanto antes for iniciado o tratamento, melhor.

O AVC isquêmico não dói e isso muitas vezes retarda o diagnóstico e a ida do paciente ao hospital, acreditando-se que os sintomas podem melhorar sozinhos. Até mesmo no ambiente hospitalar muitas vezes o paciente com sintomas de AVC é negligenciado. Reconhecer os sintomas é fundamental e deve-se levar o paciente ao Hospital imediatamente. O tamanho do AVC e a chance de recuperação dependem do tempo. É uma corrida contra o relógio!

Como é feito o tratamento do AVC isquêmico agudo?

O paciente é atendido no setor de emergência hospitalar e avaliado pelo clínico e neurologista. A pressão arterial deve ser estabilizada, exames de sangue colhidos e o paciente submetido ao exame neurológico completo. Pelo exame neurológico já é possível se prever a gravidade do AVC numa escala neurológica chamada NIH.

O primeiro exame de imagem a ser realizado é uma tomografia computadorizada do crânio. Ela serve para se afastar que o AVC seja hemorrágico, e neste caso receba outro tipo de tratamento, e também para se avaliar se já há dano cerebral e sua extensão. Um segundo exame, realizado no mesmo tomógrafo com injeção de contraste endovenoso, é a angiotomografia dos vasos cervicais e cerebrais. Este exame serve para se identificar se há oclusão de vasos intracranianos e avaliar a circulação colateral. Caso seja diagnosticada uma oclusão de vaso intracraniano de grande calibre (AVC maior) o coágulo deve ser removido mecanicamente, a chamada trombectomia mecânica. Paralelamente à trombectomia mecânica, numa janela de tempo de até 4,5 horas, o paciente receberá uma medicação endovenosa para se tentar dissolver o coágulo, chamada trombolítico. Esta medicação é mais eficaz em dissolver coágulos pequenos mas quando há uma obstrução de um vaso maior a trombectomia é o procedimento a ser realizado.

Inicialmente a trombectomia mecânica só era realizada nas primeiras 6 horas após o início dos sintomas do AVC mas posteriormente esta janela de oportunidade se estendeu para 8 horas e atualmente, em casos bastante selecionados, pode ser realizada em até 24 horas. Digo bastante selecionados, pois são mais raros os pacientes que toleram tantas horas de oclusão de um grande vaso intracraniano sem que ocorra dano irreversível. Portanto é mesmo uma corrida contra o tempo!

O coágulo pode ser removido por aspiração, com um cateter específico, ou com um stentriever, uma espécie de extrator do coágulo.

São diversas as evidências científicas da eficiência e segurança deste procedimento desde 2015, incluindo um estudo nacional chamado Resilient, publicado em 2020 no New England Journal of Medicine, do qual tivemos a oportunidade de participar.

O paciente é posteriormente encaminhado para uma Unidade de AVC ou UTI para seguir o tratamento intensivo, pois não basta remover o coágulo, é preciso um cuidado pós-operatório para se obter o melhor resultado. O período de internação é variável bem como a necessidade de terapias de reabilitação coadjuvantes.

Fique bem informado